Cultivando o respeito, a apreciação e a tolerância no ambiente escolar

Por: Rúbia Galvão Nery

Este artigo tem como proposta uma reflexão em relação há inúmeras situações de convívio, em especial, na escola. Uma análise sobre questões relacionadas a gêneros, raças ou tipos físicos que são favoráveis ao que se denomina bullying.

O atual cenário vivido por diferentes indivíduos, cada qual com suas especificidades e particularidades, em especial, no ambiente escolar, requer maior atenção e novos olhares para que o livre acesso e a participação sejam concedidos e bem-sucedidos. Buscando uma participação ativa, na qual rotulações, segregações e preconceitos sejam banidos, à medida que todos (docente e discente, pais e demais envolvidos) se conscientizem e viabilizem tais conceitos, entendendo que todos, independentemente de suas escolhas e/ou deficiências, tenham dignidade, oportunidades e respeito.

Infelizmente, construímos uma sociedade absolutamente excludente e desigual, diante das diferenças. Faz-se necessário atenção, observação e novas atitudes.

E, por falar em atitudes… Bullying é uma palavra inglesa que não tem correspondência na língua portuguesa e representa um conjunto de atitudes violentas e agressivas, psíquicas e afetivas, intencionais e repetitivas, adotadas por um ou mais indivíduos, provocando intimidação.

É um ato repetitivo de agressões e perseguições, verbais ou gestuais, de maneira a amedrontar e intimidar, chamando a atenção dos envolvidos, seja o emissor, o receptor ou aqueles que estão à volta, a plateia. Muito praticado por determinados indivíduos, em especial, adolescentes e, principalmente, no ambiente escolar. Atitude criminosa e humilhante, que provoca danos em quem recebe e sansões legais para quem pratica.

Geralmente, o praticante de bullying é um sujeito “metido a valente”. Provavelmente, por estar sendo dominado por algum complexo de inferioridade, e que tem o objetivo de ridicularizar outra pessoa ou grupo. O indivíduo projeta a sua inferioridade sobre outrem para aliviar sua baixa autoestima.

Essas práticas geradoras de comportamentos agressivos e negativos, na maioria das vezes, executados repetidamente, e nos relacionamentos nos quais há um desequilíbrio de poder entre os envolvidos, gera atitudes de grande violência física e, principalmente, psicológica.

O bullying coloca no agressor o direito de destruir a vítima, seja fisicamente ou moralmente. E, por sua vez, a vítima, debilitada, sente-se inferiorizada à frente dos demais. Os que assistem também se diminuem, absorvem valores negativos e, nesse contexto, tanto o agressor quanto o receptor são vítimas.

Este medo do que se acha ser o “inimigo”, o “estranho”, fica cada vez mais evidente e está presente em nossa sociedade, contribuindo para a dinâmica do poder, da arrogância e da prepotência. Desta forma, este abuso de poder é um mecanismo de defesa para aliviar o medo diante do diferente, do desconhecido e dos traumas ou complexos sociais.

A especialista Cleo Fante, autora do livro Fenômeno Bullying, formulou um manual que reúne os sinais observados com maior frequência nas vítimas deste tipo de prática.

Em muitos casos, o estudante prefere ficar trancado no quarto a sair com os amigos; ele raramente é convidado para uma festa da escola; seu desempenho escolar apresenta piora; pede aos pais que o troquem de escola sem uma razão convincente; antes de ir ao colégio, sua muito e tem dores de barriga ou de cabeça; ele manifesta o desejo de mudar algo em sua aparência.

Este tipo de agressão praticada por crianças e jovens já atinge 45% dos estudantes do ensino fundamental do nosso País, seja como agressor ou vítima, ou mesmo em ambas as situações. Todavia, se apresenta em todo ambiente escolar, e mesmo na educação infantil (nos primeiros anos da criança na escola, já se presenciam tais evidências).

A criança, por se sentir inferiorizada, sem oportunidade, carinho e proteção, muitas vezes chega à escola com atitudes agressivas, incomodada com a característica pessoal do “colega”, sua postura, o que ele usa ou o que ele faz, sua atitude perante os demais.

Diferenciar um apelido ou brincadeira que não passa de farra de criança, de uma maldade caracterizada de bullying, é o grande desafio de pais e educadores. Se uma criança ganha um apelido de que não gosta muito, mas o encara sem traumas, não há porque se preocupar. Entretanto, se ele causa incômodo, é necessária uma atitude. E é aí que o bullying acontece. Em muitas situações, o jeito de ser e as características pessoais da “vítima” tornam-se, para o agressor, o grande problema e podem ser o motivo para o início das perseguições.

Culturas diferentes têm reações diversas no que se refere ao bullying e na busca de possíveis soluções frente a este grande problema. Como afirma Cleo Fante, “os pensamentos dos indivíduos estão sujeitos a um filtro cultural daquilo que é aceitável em um contexto específico, diante de protagonistas específicos”. Não se pode fazer o que se quer dentro de uma determinada cultura ou sociedade.

Muitas são as pesquisas e os números batem com estatísticas internacionais. Pela primeira vez, traça-se um perfil das vítimas que, na sua maioria, são tímidas, com alguma característica física ou comportamental marcante, como obesidade ou baixa estatura, e tendo, em média, 11 anos de idade.

São meninos e meninas com poucos amigos, pessoas isoladas, quietas e que não reagem contra o que lhes desagrada.

As formas de agressão entre alunos são as mais diversas possíveis, como empurrões, pontapés, insultos, fuxicos/histórias humilhantes, mentiras para intimidar a vítima, apelidos que ferem a dignidade, captar e difundir imagens, inclusive pela internet (cyber bullying), enviar mensagens e, por fim, a exclusão social.

Ainda que não efetivada a agressão, os agressores costumam ameaçar e colocar medo em suas vítimas. Já as meninas agressoras costumam espalhar rumores mentirosos ou ameaçam e espalham segredos para causar mal-estar.

Os agressores, em sua maioria, têm entre 13 e 14 anos de idade e gostam de mostrar poder. Costumam ser líderes de seus colegas e, em muitos casos, constata-se que são indivíduos mimados por seus responsáveis, pais e familiares, bem conscientes e protegidos. A maioria é formada por meninos (60%), entretanto, quando o agressor é uma menina, geralmente é muito cruel, tramando fofocas e intrigas para excluir a vítima.

A violência, especialmente na escola pública, faz parte do cotidiano.

Segundo Yves De La Taille, especialista em psicologia moral, existe uma situação de medo, uma percepção de que as relações humanas estão cada vez mais desrespeitosas e a própria sociedade deveria ser capaz de administrar essas atitudes.

Segundo ele, para que um combinado seja efetivamente aceito, é preciso estar atento. Primeiro, é necessário que os princípios inspiradores norteiem o acordo e sejam explicitamente colocados, não fiquem apenas implícitos para a turma. Segundo, é preferível procurar o consenso, o que dá muito mais trabalho, mas é bem mais rico, porque desenvolve a prática de escutar o outro.

Desde sempre, as diferenças estão presentes nas relações pedagógicas entre alunos e professores. Cabe a escola, como autoridade educacional local, promover ações educativas para amenizar essas divergências, conscientizar, interagir e, por fim, solucionar.

Não há quem se sinta bem ao ser maltratado, desestimulado ou desprezado, e isso é válido para qualquer lugar, seja em um restaurante, um posto de saúde, uma igreja ou mesmo a escola.

Nestas situações cotidianas, nota-se o importante papel exercido pela escola como protagonista de uma sociedade melhor, pois é na escola que se há de ensinar, direcionar e contribuir para a formação do caráter e personalidade do indivíduo. É nela que aprendemos os primeiros passos rumo à formação do verdadeiro conceito de cidadania.

Já não há mais espaço para instituições que passam, burocraticamente, informações aos alunos, sem o cuidado de formá-los devidamente para a vida e tudo que nela se apresenta. É preciso transmitir atitudes, valores e conceitos.

Há de se considerar que o processo educativo envolve três grandes habilidades: cognitiva, social e emocional. A habilidade cognitiva trabalha com o processo constante de aprender novas ideias, conceitos e valores. A habilidade social desenvolve duas questões básicas: uma é a importância da cooperação e a outra é a solidariedade. A habilidade emocional é a revelação do que há de mais nobre no ser humano, é a capacidade de amar e de ser amado. Ela perpassa as outras duas. Não se aprende sem emoção e não se participa do jogo social sem emoção.

A afetividade, como afirma o sociólogo Henry Wallon, nasce dessa certeza de que o aluno aprende quando se sente valorizado, acolhido e respeitado. O percurso de desenvolvimento faz com que a criança se diferencie do outro, trabalhe para isso, diz o autor.

Na relação com o outro, se identifica um duplo movimento. Primeiro, a incorporação do outro por meio da imitação, alargando as fronteiras do seu eu. Posteriormente, a expulsão do outro, quando a criança nega o próximo, rejeitando, se opondo, se diferenciando. Logo adiante entra a fase do personalismo, quando a criança se opõe ao outro e se afirma, independentemente.

O resultado prático é a construção de um espaço mais harmônico, em que as heterogeneidades convivam em paz, aferindo resultados de uma educação com mais qualidade e significado para os aprendizes.

É de extrema relevância que o professor conheça seus alunos. E, há de se considerar que eles precisam se sentir amados e queridos, e que cada indivíduo é único e tem seu valor perante os demais e à sociedade.

Para que professores e alunos tenham sucesso na mudança de comportamentos relacionados ao convívio diário, é preciso trabalhar, de forma eficaz, a questão da autonomia, da diversidade e da autoestima. Competição, regra, conquista e avaliação são aspectos que podem afetar o clima educacional da classe e a vivência entre os participantes/envolvidos.

É necessário atenção e reflexão constante, observando o comportamento dos alunos e agindo de forma compreensível, absolvendo e detectando o que pode estar por trás de determinadas ações, situações e atitudes. É importante considerar que, mesmo inconscientemente, alguns professores apresentam muitas falas competitivas. Na intenção de estimular a produção da classe, algumas atitudes podem promover sérias consequências e implicações. A competição é um convite ao desrespeito e ao bullying.

É fundamental lembrar que o aluno envolvido com atitudes de desrespeito traz consigo um acúmulo de frustrações que se ampliam na relação com os demais. É sabido que não se pode mudar a cultura, entendida em um sentido mais amplo. Contudo, se você compreender e estabelecer uma atitude inovadora, terá um olhar diferenciado para as situações.

Se as pessoas tivessem a possibilidade de escolher, com certeza, não escolheriam problemas. As pessoas, na maioria das vezes, tendem e tentam fazer as coisas da melhor forma possível. Um aspecto muito importante e positivo para abreviar o problema é exteriorizá-lo. E quando a pessoa consegue fazer isso, ela tende a tomar consciência do que está acontecendo.

É preciso demonstrar respeito e estar aberto às experiências dos alunos. Pensar sobre isso pode ajudar os educadores a se relacionarem com os eles e a lidarem com as experiências dos jovens, estabelecendo uma ligação com a própria experiência enquanto educador.

Olhar os próprios medos, observar as inquietações, as pressões vivenciadas e as frustrações diárias ajuda o educador a entender as ações e reações dos alunos diariamente na escola. Ouvi-los, dar espaço para que eles se exponham, elogiar, mesmo que os pequenos avanços, é uma forma de respeitá-los e estar aberto às suas experiências, cultivando o respeito, a apreciação e a tolerância.

A criação de vínculo entre educador e educando possibilita a construção da autoestima e a constante necessidade de cada um dar o melhor de si.

Rúbia Galvão Nery é professora de Educação Infantil na E.M.E.I Professora Zuleika Pereira Leite, em São Paulo (SP). 

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